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Uma pessoa formada em ciências é considerada inculta se não souber quem é o José Saramago, mas o José Saramago não é considerado inculto se não souber o que é um caudal!

Estará isto correcto? Não deveriam todos os cidadãos ter uma cultura científica mínima? Abaixo de um certo limiar não deveriam ser considerados iletrados?

A ciência e a tecnologia são universalmente reconhecidas como muito importantes no mundo actual mas o cidadão comum acha que não ter quaisquer conhecimentos científicos é normal e não é falta de cultura.

Ter conhecimentos em arte e literatura é cultura, ter conhecimentos em matemática e química não. Esta espécie de mito está enraizada em toda a sociedade portuguesa. E ainda não vi em nenhum lado uma explicação para ela.

A maior parte das pessoas ainda não se apercebeu de como isto é grave; outras já se aperceberam. Em entrevista ao “Primeiro de Janeiro” em Março deste ano, o físico Carlos Fiolhais diz:



“…ciência e cultura são indissociáveis, apesar de haver ainda quem não tenha consciência desse facto óbvio. Se há um século o problema das sociedades mais atrasadas era a iliteracia, hoje o problema das sociedades menos desenvolvidas é a iliteracia científica. A ciência é o conhecimento do mundo e só pode triunfar no mundo quem o conheça. Um cidadão de hoje e, ainda mais, um cidadão de amanhã, para poder viver melhor, tem de ter um conhecimento mínimo do mundo e ter uma ideia, ainda que rudimentar, do modo como se ganha esse conhecimento. A cultura científica é não só a posse de alguns factos da ciência mas também e sobretudo o reconhecimento do papel e do valor da ciência: trata-se de uma necessidade incontornável das sociedades modernas. É certo que muitos dos nossos ministérios e organismos públicos parecem viver à margem da ciência. O ministério da cultura na prática só reconhece certas formas de cultura.”



Em 1996 a National Academy of Sciences americana definiu literacia científica:



“A literacia científica significa que uma pessoa pode procurar , encontrar, e determinar as respostas a questões derivadas da sua curiosidade sobre as experiências do dia a dia. Significa que a pessoa tem capacidade para descrever, explicar e predizer fenómenos naturais. A literacia científica inclui o ser capaz de ler e compreender artigos sobre ciência na imprensa pública e envolver-se numa conversação sobre a validade das conclusões. Implica que uma pessoa pode identificar questões problemáticas subjacentes a políticas nacionais e locais e expressar posições científica e tecnologicamente informadas. Deve ser capaz de avaliar a qualidade da informação científica com base nas fontes e métodos para a gerar. Implica a capacidade de colocar e avaliar argumentos baseados na evidência e de aplicar apropriadamente as conclusões a partir desses argumentos”.



Uma definição mais concisa e que me agrada mais foi usada em 1997 por Koballa et.al.( “The spectrum of science literacy”, The Science Teacher, 64(7): 27-31):

“ O conhecimento e a compreensão de conceitos e processos científicos necessários para se tomarem decisões individuais, para a participação cívica e cultural e para se contribuir para a produtividade económica.”



O problema da iliteracia cientifica não é só português. Tanto os EUA como vários países europeus têm-lhe dedicado particular atenção desde há várias décadas.



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