optic ilusion

Semelhante à grelha de Hermann, as ilusões ópticas deste post fazem aparecer pontos coloridos no cruzamento das linhas. Foram demonstradas pela primeira vez apenas em 1993.
O efeito é mais forte do que o observado na grelha de Hermann e neste caso o mecanismo que causa a ilusão é completamente diferente por mais estranho que isto possa parecer dada a semelhança visual dos efeitos.
Este tipo de ilusão óptica foi invocado em 2001 para explicar erros na contagem de votos na flórida.

Para quem estiver interessado nas explicações as referências ficam abaixo.

optic ilusion

Schrauf M, Lingelbach B, Lingelbach E & Wist ER (1995) The Hermann grid and the scintillation effect. Perception 24: suppl, 88–89

Schrauf M, Lingelbach B & Wist (1997) The scintillating grid illusion. Vision Res 37:1033–1038

VanRullen R, Dong T (2003) Attention and scintillation. Vision Res 43:2191–2196

optic ilusion

A grelha de Hermann (1870), uma ilusão óptica bastante conhecida, faz aparecer pontos negros nos cruzamentos das linhas brancas, com excepção daqueles para os quais estamos a olhar.

A explicação técnica para esta ilusão pode ser encontrada em (link não aconselhável para quem não tenha conhecimentos avançados nesta área científica): Schiller, P. et al. (Mar 2004) web.mit.edu/bcs/schillerlab/research/A-Vision/A15-2.htm

Também funciona com a imagem invertida.

optic ilusion


Hermann L (1870) Eine Erscheinung simultanen Contrastes. Pflügers Archiv für die gesamte Physiologie 3:13–15

Hartline HK, Wagner HG, Ratliff F (1956) Inhibition in the Eye of Limulus. J Gen Physiol 39:651–673

Baumgartner G (1960) Indirekte Größenbestimmung der rezeptiven Felder der Retina beim Menschen mittels der Hermannschen Gittertäuschung. Pflügers Arch ges Physiol 272:21–22

Spillmann L (1994) The Hermann Grid Illusion: a Tool for Studying Human Perceptive Field Organization. Perception 23:691–708

Lingelbach, B & Ehrenstein, WH Jr (2002) Das Hermann-Gitter und die Folgen. DOZ 5:13–20, www.leinroden.de/304herfold.htm


O que pode tornar fascinante um filme de terror feito nos idos anos 20 cuja filmagem não tem nada de especial?


caligariNo caso particular do Gabinete do Dr. Caligari e na minha opinião pessoal é apenas o facto do filme ser um dos expoentes do movimento expressionista alemão com o impacto visual que isso acarreta.
Uma corrente que manipulava a luz de uma forma inovadora, distorcia formas e usava a cor para traduzir estados de alma ao invés de usar representações realistas.
Os cenários são desconjuntadamente fabulosos, quase tão esquizofrénicos como alguns dos personagens. Sombras em forma de triângulos e espirais pintadas nas paredes, mobílias bicudas e desproporcionadas, superfícies deformadas e sinuosas, edifícios de esguelha meio pendurados, portas oblíquas, salas distorcidas com ângulos agudos nos cantos e tectos inclinados, dão a quem vê o filme uma sensação de desorientação e de estranheza, de “out of placement”.

O guarda-roupa, a maquilhagem e o desempenho dos actores também pertence ao mundo expressionista. Cesare, o sonâmbulo parece dançar na sua figura grotesca e o personagem Caligari é tão bizarro que quase se funde com o cenário.
O filme foi feito logo após a I grande guerra e a Alemanha debatia-se com problemas económicos. O orçamento era muito reduzido portanto foi necessário poupar. Poupou-se nos cenários e na iluminação. Os cenários foram todos feitos com papel pintado e alguma madeira. Como não havia dinheiro para a iluminação, o claro escuro de alguns sets foi concebido para substituir parte da iluminação.

caligari

Alguns críticos fazem uma interpretação sociopsicológica do filme como um metáfora do que se passava na Alemanha na época e um protesto contra as autoridades.O medo provocados pela instabilidade política e económica era evocado através de personagens sombrias. Os cenários representavam o estado da sociedade alemã da época. O sonâmbulo do filme representaria a Alemanha e Caligari seria as autoridades alemãs, que tinham incitado a população a cometer crimes – a guerra- por elas. O filme também é visto como uma premonição da subida ao poder de Hitler, um manipulador de mentes para fins malévolos, tal como Caligari. O que já me parece um pouco clarividente a mais.

caligari

A história é contada em flashback pela personagem Francis: O sinistro Dr. Caligari exibe Cesare, um perpétuo sonâmbulo com poderes divinatórios, numa barraca de feira. Este prediz que Alan, um amigo de Francis irá morrer no próprio dia. O que vem a acontecer. A morte de Alan é uma dentre uma série de bizarros assassinatos que ocorrem na cidade. Caligari e Cesare tornam-se suspeitos óbvios. Mais tarde descobre-se que são culpados. Caligari é perseguido por Francis até um hospital para doentes mentais. Onde fica a saber que Caligari é o médico chefe do hospital. Num surpreendente volte face final Francis é apresentado como um dos doentes loucos do hospital que narra esta história a outro doente e Caligari é afinal um homem são. Mas as cenas finais do filme deixam ainda a pairar no ar a questão: será Caligari menos louco que Francis?


Gary Larson, um cartoonista "científico" de que sou grande fã.

garylarson



Gatos no seu melhor!

gary_larson


gary_larson


Tal como prometido o primeiro texto sobre o mosaico de filmes. Este vem mesmo a propósito e a tempo para as comemorações do 60º aniversário da derrota do regime nazi.

“The birth of nation” é uma adaptação do livro de 1905 “ The clansman” da autoria de Thomas Dixon, um padre racista. O filme tecnicamente muito sofisticado para a época contém importantes avanços artísticos e técnicos para a indústria cinematográfica*, incluindo uma cena colorida (que surge quase no final). Foi um sucesso de bilheteira na época apesar das suas 3 horas de duração e permanece um marco incontornável da história do cinema.


Na primeira parte mostra-se a introdução dos escravos negros nos EUA, a vida quotidiana dos personagens principais na fase pré-guerra civil de 1860 e a dita guerra. As personagens principais são duas famílias amigas, uma sulista, outra do norte, com as implicações que daí advém. Os membros das duas famílias defrontam-se na guerra havendo umas paixonetas à mistura. Os negros são caricaturados estereotipadamente como criaturas más ao longo de toda a primeira parte mas não é demasiado evidente o carácter racista do filme nesta parte.
A segunda parte pode ser considerada como muito mais racista mostrando os negros como selvagens vilões causadores da desgraça. Esta segunda parte mostra o que se passa no pós-guerra no seio das duas famílias e da sociedade - A reconstrução. A ascensão social dos negros e a miséria em que ficaram as famílias do sul. Mas o que interessa reter do filme não é a parte romanceada: Na segunda parte surgem os verdadeiros heróis do filme- O Ku Klux Klan- A organização que vai libertar a sociedade branca dos terríveis negros. O KKK é glorificado.

Pelo exposto fica a saber-se que se trata de um filme extremamente controverso. Na época suscitou um recrudescimento do Ku Klux Klan e dos sentimentos racistas nos EUA. Também ouve motins nalgumas cidades e 2 cenas foram mesmo censuradas.
Ao ver este filme cresce dentro de nós a dúvida. Devo eu condenar e vetar uma obra de arte se o seu conteúdo for ideologicamente condenável ou se for contrário aos meus valores? ( Para mim este foi o verdadeiro valor deste filme. Fez nascer em mim esta dúvida.)

Griffith defendeu-se das acusações de racismo com os seguintes argumentos:

- O filme é a adaptação fiel de uma obra da qual ele, Griffith, não era o autor.

- Todas as pessoas tinham o direito de livre expressão e pensamento quaisquer que fossem as suas ideias. Ao tentarem censurar o conteúdo do filme estariam a cercear essa liberdade.

- E por último um irónico : “Na altura em que fiz o filme eu não era racista.”

No inicio do filme surge o seguinte intertítulo:

“A PLEA FOR THE ART OF THE MOTION PICTURE":

“We do not fear censorship, for we have no wish to offend with improprieties or obscenities, but we do demand, as a right, the liberty to show the dark side of wrong, that we may illuminate the bright side of virtue - the same liberty that is conceded to the art of the written word - that art to which we owe the Bible and the works of Shakespeare.”

Em resposta às criticas e à celeuma causada por “The birth of a nation” Griffith acabou mais tarde por realizar “Intolerância” de que falarei daqui a uns tempos.
Sobre a mensagem veiculada no filme Griffith nunca se pronunciou com clareza e permanece a dúvida:
É um filme racista, um exercício de liberdade de expressão ou pretende apenas narrar factos históricos?
Incontornável é o facto de o filme continuar a suscitar debates actualmente e ainda ser utilizado pela KKK para recrutamento.

*Algumas inovações técnicas : Filmagem nocturna (usando “flashes” de magnésio); Filmagens no exterior; Still-Shots; ângulos de filmagem múltiplos, filmagem de acção em paralelo, panorâmicas, travellings, close-ups, dissolves e fade-outs para mudar de cena.



É disso que se vai falar neste blog nos próximos tempos. Filmes das décadas de 10 e 20 do século passado. À medida que os for revendo vou escrever sobre cada um deles. Os escolhidos são obviamente os meus favoritos, mas recomendo-os a toda a gente. São filmes magnificos que nunca passarão de moda. São muito diferentes uns dos outros e não consigo escolher nenhum como o melhor. Entre o coração e a alma a minha escolha oscila sempre. Do visceral "The birth of a nation" à ficção entusiasta da "viagem à lua" a escolha é impossível.

Alguns realizadores repetem-se e bisam na minha lista. Porque são os melhores! Outros repetem-se na minha lista para as décadas anteriores e/ou posteriores.

É notória a evolução técnica ao longo dessas 2 décadas. Comparar o "viagem à lua" de Meliés com o "un chien andalou" de Buñuel é como comparar a TV a preto e branco com um IMAX. Nisso por mais engenhosos que fossem os realizadores não há volta a dar-lhe...

Os meus escolhidos (de cima para baixo, da
esquerda para a direita ):


  • Nosferatu, o vampiro - F. W. Murnau (1922)
  • Nanook, o esquimó- Robert J. Flaherty (1922)
  • Blackmail - A. Hitchcock (1929)
  • The Birth of a nation- D.W. Griffith (1915)
  • Intolerância - D.W.Griffith (1916)
  • Das cabinett des Doktor Caligari - Robert Wiene (1920)
  • Un chien Andalou - Luis Buñuel, Salvador Dali (1929)
  • Greed - Erich von Stroheim (1924)
  • Viagem à lua - G. Meliés (1914)
  • Metropolis- Fritz Lang (1927)
  • O couraçado Potemkin - S. Eisenstein (1925)
  • Sunrise - F. W.Murnau (1927)

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